sexta-feira, 29 de abril de 2011

Bom dia, sorriso e mão gelada

- Oi, bom dia! - falou, sorrindo e estendendo-me a mão direita gelada.

Retribuí o cumprimento com um sorriso um tanto menor que o dele, que pareceu menos sincero do que realmente era. Sempre ouvi que era um cara bacana, e mais tarde descobriria que estavam certos.

Foi a primeira vez, em seis meses, que ele me estendeu a mão. Já havíamos trocado alguns poucos olhares e 'bons dias', mas sempre à uma certa distância, imposta pela barreira de quem não tem intimidade nenhuma.

Hoje foi diferente. A barreira não existe mais. É o último dia dele. Neste momento, tanto fazem as aparências, as convenções, as regras, o politicamente correto. Trouxe até pães de queijo para todos!

Sei exatamente como ele se sente.
Hoje, ele só queria se despedir. E muito mais que isso, queria que se despedissem dele.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Debate: Em busca de qual verdade?











Tenho acompanhado alguns blogs no G1. Dentre eles, o do Paulo Coelho. Independentemente da misticidade e possíveis metáforas excessivas de seus escritos, considero bastante pertinente e sensata a maioria de suas colocações. Resolvi transcrever aqui o texto que ele publicou hoje.

O sentido da verdade

Em nome da “verdade”, a raça humana cometeu seus piores crimes. Homens e mulheres foram queimados, a cultura de civilizações inteiras foi destruída, os que cometiam os pecados da carne eram mantidos a distância, os que procuravam um caminho diferente eram marginalizados.

Um deles, em nome da “verdade”, terminou crucificado. Mas – antes de morrer – deixou a grande definição da “verdade”.

Não é o que nos dá certezas. Não é o que nos dá profundidade. Não é o que nos faz melhor que os outros. Não é o que nos mantém na prisão dos preconceitos. A verdade é o que nos faz livres.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, disse Ele.


(http://g1.globo.com/platb/paulocoelho/)

A escolha desse texto não se deu ao acaso. Ela vem de encontro aos meus pensamentos e sentimentos em relação a um conjunto de acontecimentos polêmicos que têm recheado a mídia, todos relacionados a um deputado federal do PP-RJ, e cujo estopim foi uma entrevista num programa de TV, exibido nas noites de segunda-feira.

Pretende-se, aqui, em vez de defender este ou aquele grupo, analisar o discurso dos envolvidos direta e indiretamente.

O deputado e a horda que o segue posicionam-se, com soberba, de maneira agressiva, ignorante, ilógica e discriminatória. A única diferença entre o "rei" e seu "súditos", é que o primeiro tenta se fazer eloquente, enquanto os demais apenas disparam preconceito (e não é a ignorância a mãe do preconceito?).
Não suficiente, argumentam de forma recriminatória.
E é exatamente neste ponto que eu queria chegar.
Pertinente explicitar, aqui, uma das definições de do verbo "recriminar": responder a uma acusação acusando também (Dicionário Michaelis, online).

Termo definido, qualquer espectador, ouvinte ou leitor mais atento é capaz, então, de captar, na maioria das declarações do deputado e de seus fãs, recriminação. Na minha modesta opinião, é assim que se perde uma discussão.

Lembro-me sempre de uma orientação que recebi de uma professora, ainda durante o ensino fundamental, sobre a construção de um texto dissertativo. A dica dela era bem simples: Nunca, jamais, sob nenhuma circunstância e em nenhuma hipótese, faça uso de argumentos religiosos para defender seu ponto de vista.

É claro que falando de seres humanos, não se pode ignorar completamente as crenças de cada um.
Todavia, é necessário ter cautela ao se posicionar numa discussão. E quando o objeto discutido são grupos de seres humanos, a cautela precisa ser, no mínimo, redobrada.
Qualquer argumentação que, no lugar de exclusivamente defender seus pontos de vista e as qualidades de seus defendidos, critica e acusa a(s) outra(s) parte(s), apontando suas "falhas", sobretudo de cunho religioso, presenteia-se com a autoderrota.

Termino reiterando o texto transcrito no início deste post. Em nome da "verdade" muitas atrocidades já foram cometidas.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)

Tua verdade te aprisiona, ou te liberta?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Debate: Atrasos (médicos)















No último domingo, visitando uma comunidade no Orkut, tomei ciência de uma discussão bastante polêmica e, por consequência, calorosa, daquelas que dão muito pano pra manga.

O tema do tópico era o atraso dos médicos nas consultas.
Coincidentemente, se é que existe coincidência, na segunda-feira seguinte (anteontem) tive uma consulta médica, que estava marcada para as 18h00. Admito que me adiantei (um pouco) demais, e cheguei ao consultório às 17h20. Depois de um "pequeno" intervalo de espera, ouvi o médico chamar meu nome - eram 19h20. Mesmo desconsiderando meu adiantamento, a consulta teve início com uma hora e vinte minutos de atraso. É ou não é um absurdo?
O interessante é que a discussão na comunidade estava razoavelmente equilibrada, com alguns argumentos favoráveis aos médicos e alguns, claro, contrários.

No primeiro grupo, falavam sobre a rotina de um médico, que consiste, justamente, na falta de uma rotina. São profissionais extremamente ocupados, cujas atividades demandam uma quantidade de tempo que, na maioria dos casos, não pode ser prevista. Além disso, argumentavam que um médico tem a obrigação de se dedicar ao paciente, examiná-lo a contento, fazer todas as perguntas pertinentes (anamnese) para poder tomar uma decisão acertada (solicitar exames, ou prescrever medicações, etc), ou então se concentrar no procedimento que está realizando (uma cirurgia, por exemplo), e todas essas tarefas não podem ser limitadas no relógio - não dá pra estimar que todas as consultas durarão quinze minutos, ou que toda cirurgia durará três horas.
Nesse primeiro grupo era mais comum a presença de veteranos (médicos ou estudantes), que por vezes refutavam os adversários alegando ter mais conhecimento de causa.
No outro grupo, as opiniões eram baseadas em ética, profissionalismo, e respeito aos pacientes, que não precisam receber de brinde um "chá de cadeira" toda vez que vão a uma consulta médica.

De fato, há consultas que demandam mais do que quinze minutos, mas então, por que não reservar vinte ou trinta minutos para uma consulta?
Já me adianto com duas respostas. A primeira, politicamente incorreta, é porque os médicos precisam ganhar mais dinheiro e, portanto, pode-se devolver a pergunta: por que agendar dois pacientes por hora, se é possível agendar quatro e receber o dobro de dinheiro?
A outra, politicamente correta, é para otimizar a abrangência do atendimento médico. Há consultas que duram menos de quinze minutos, então, por que agendar dois pacientes por hora, se é possível agendar quatro?
Analogamente, se um procedimento cirúrgico pode levar de duas até seis horas, por que um médico agendaria um outro compromisso para três horas após o horário de início da cirurgia?
Ahmmm, eu já falei sobre otimização do tempo? Ah...

E aí, se a cirurgia ou a consulta duram mais que o previsto, quem paga o pato? Essa eu nem preciso responder, né?

Uma manicure faz exatamente a mesma coisa - agenda mais clientes do que é capaz de atender.
Dependendo do ponto de vista, a profissão do médico é mais nobre do que a da manicure, mas e os conceitos de ética e respeito, variam conforme a profissão?

É claro que há imprevistos, que causam atrasos. E isso não é exclusividade dos médicos.
O problema surge quando os imprevistos são constantes. Aí, a própria definição de imprevisto é perdida.
Talvez a profissão do médico conte, estatisticamente, com um número maior de situações inesperadas. Talvez.
De qualquer forma, eu prefiro não relacionar e não justificar atrasos à profissão médica.

Como uma participante bastante coerente comentou, penso que o atraso está muito mais conectado à cultura brasileira do que a uma ou a outra profissão.
Isso explica porque, mesmo quando agendamos um horário, esperamos tanto nas consultas médicas, odontológicas, na manicure e no cabelereiro, e eventualmente na fila dos bancos e dos parques de diversão, nos órgãos públicos, e até num encontro com amigos...!

Qualquer pessoa razoável é capaz de concluir junto comigo, então, que pontualidade não tem absolutamente nada a ver com profissão.
Assim, a pergunta pode ser direcionada a qualquer um: Você é uma pessoa pontual? (leia-se: Você respeita o próximo?)

sábado, 2 de abril de 2011

Reflexão: Caminhos















Eu gostaria de agradecer aos que têm regado frequentemente a sementinha da dúvida que carrego dentro de mim.
A dúvida só existe porque os caminhos que se podem trilhar são inúmeros.
Sempre há, e sempre haverá opções.
Eu não posso querer acreditar que isso é um problema. Prefiro pensar que é uma bênção. E como tal, deve ser louvada. Não (só) no sentido religioso, mas deve ser aproveitada, curtida, agradecida e, mais do que tudo, vivida.
Costumava (e ainda costumo) dizer que toda escolha implica numa perda. Mas aprendi que é possível pensar de uma forma menos dura.
Quando se faz uma escolha, não se sabe de antemão se ela representará o sucesso ou o fracasso.
O sucesso, no entanto, se aproximará à medida em que nos tornarmos capazes de esquecer os caminhos deixados para trás.
O trabalho dos bravos há de ter muito mais valor.


E com esse texto eu dou início a este blog.
Gostaria que o post inicial fosse mais histórico, e mostrasse um pouco de como cheguei até aqui. Mas isso vai vindo, aos poucos, com o desenrolar do tempo. Falando em tempo, é bem possível que por aqui, passado, presente e futuro se misturem, como na própria vida, em que a cronologia é apenas um detalhe sem fundamento, imposto por algum virginiano (rs).
Procurarei manter o blog atualizado, e tentarei organizar os posts iniciando-os sempre por uma palavra-chave, como hoje, por exemplo, que usei 'reflexão'.