Este post é o comentário que escrevi em resposta a esse post aqui, da blogueira Lari - meu comentário ficou meio grandinho, e não coube lá, então estou postando aqui.
Ela usou o exemplo da UFRGS para expor como funciona o sistema de cotas para acesso às universidades, e finalizou com uma pergunta: "Gostaria de saber a opinião de vocês. Vocês são a favor ou contra o sistema de cotas? Por quê?"
Parcialmente contra. Parcialmente a favor.
Contra porque o vestibular é, antes de mais nada, um exame classificatório (e eliminatório). Assim, tem como principal objetivo CLASSIFICAR os candidatos em ordem decrescente de desempenho e, como sabemos, os melhores colocados garantem uma vaga no curso pretendido. Dessa forma, parece-me incoerente e injusto reservar uma determinada quantidade de vagas para um grupo especial de alunos, sejam eles egressos de escolas públicas, negros, deficientes ou etc, uma vez que esses alunos garantirão suas vagas mesmo não estando entre os melhores classificados, além de, é claro, ocupar as vagas que pertenceriam a alunos com melhores pontuações mas que não são cotistas.
Na verdade, acho que todo mundo pensa dessa forma. Ocorre que a quase totalidade dos vestibulares não seleciona os melhores futuros graduandos, e sim os alunos mais bem preparados para um exame específico. E é fato, comprovado através de inúmeras estatísticas, que os alunos mais bem preparados para enfrentar o exame vestibular estão nas escolas particulares.
Diante dessa situação, e das sabidas deficiências no ensino público, descobriu-se um remédio para garantir a universalidade ao ensino superior, e eu diria até que com o intuito de dar um cala-a-boca em quem reclamava que só alunos das particulares obtinham êxito no vestibular: o sistema de cotas.
Ao meu ver, foi uma 'descoberta' providencial. Quiçá conveniente. Para governo, que não dá conta de aumentar a qualidade do ensino, e para os alunos das escolas públicas, que passaram a ver alguns colegas a mais sendo aprovados. O problema é que o sistema de cotas, como todos somos capazes de reconhecer, é paliativo.
Eu, particularmente, considerando a atual situação da educação pública no país, sou, por ora, a favor do sistema de cotas. E não é um absurdo pensar assim. O mesmo acontece na economia, quando pequenos empresários recebem, por exemplo, incentivos fiscais, para poderem concorrer com os grandes. Pode não parecer tão adequado comparar educação com mercado, mas é só uma forma de ilustrar que condições sociais podem sim justificar medidas corretivas para um sistema.
Para finalizar, e propondo sugestões para que o sistema de cotas passe a ser desnecessário, são necessárias duas ações: primeira, óbvia e quase utópica, que a educação pública atinja patamares de excelência - o que demanda muito mais investimento em educação; depois, não tão óbvia mas também quase uma utopia, que os exames vestibulares sejam totalmente repensados e reformulados. Um excelente aluno na graduação não precisa ter decorado fórmulas, conteúdos, enunciados, leis, dados, não precisa ter acumulado informações, precisa ter uma única habilidade, rara de se ver hoje em dia: saber pensar.
(Sugiro a leitura complementar dos textos de um colunista do iG, Mateus Prado, aqui).
Não podia deixar de comentar também o comentário que o colega Arthur fez ao post da Lari (consultem no blog dela).
- O comentário "quem é bom vai na raça" não cabe muito bem aqui, já que estamos discutindo, entre outras coisas, a reserva de vagas para candidatos da RAÇA negra, rs.
- O primeiro a entrar por cotas, geralmente, atinge sim a média do último candidato universal, o que indica que a injustiça não é tão grande assim.
- Também não é apropriado o uso do termo "discriminação", afinal, o exame vestibular é, em sua essência, um processo discriminativo - que separa os "melhores" alunos, dos "piores".
- Sobre os gêmeos, lamentável se usaram de má fé. Mas não existe uma escala padrão de cores do Inmetro, ou da OMS, para classificação de cor de pele. Tanto que a maioia dos questionários perguntam como o candidato se declara, ou seja, é uma autodeclaração - subjetiva. Tenho uma prima que é tão branca como a branca de neve, mas a mãe dela e todos os ascendentes são negros. Sim, ela pode se declarar como parda, por exemplo. Mas assim, no geral, eu não vejo justificativa nenhuma para haver cotas para negros. Pq uma coisa é dizer que alunos das escolas públicas aprenderam menos por conta de um sistema educaiconal carente. Outra coisa é dizer que alunos negros são menos inteligentes que os brancos. Em suma, sou absolutamente contra cotas para negros.