quarta-feira, 6 de abril de 2011

Debate: Atrasos (médicos)















No último domingo, visitando uma comunidade no Orkut, tomei ciência de uma discussão bastante polêmica e, por consequência, calorosa, daquelas que dão muito pano pra manga.

O tema do tópico era o atraso dos médicos nas consultas.
Coincidentemente, se é que existe coincidência, na segunda-feira seguinte (anteontem) tive uma consulta médica, que estava marcada para as 18h00. Admito que me adiantei (um pouco) demais, e cheguei ao consultório às 17h20. Depois de um "pequeno" intervalo de espera, ouvi o médico chamar meu nome - eram 19h20. Mesmo desconsiderando meu adiantamento, a consulta teve início com uma hora e vinte minutos de atraso. É ou não é um absurdo?
O interessante é que a discussão na comunidade estava razoavelmente equilibrada, com alguns argumentos favoráveis aos médicos e alguns, claro, contrários.

No primeiro grupo, falavam sobre a rotina de um médico, que consiste, justamente, na falta de uma rotina. São profissionais extremamente ocupados, cujas atividades demandam uma quantidade de tempo que, na maioria dos casos, não pode ser prevista. Além disso, argumentavam que um médico tem a obrigação de se dedicar ao paciente, examiná-lo a contento, fazer todas as perguntas pertinentes (anamnese) para poder tomar uma decisão acertada (solicitar exames, ou prescrever medicações, etc), ou então se concentrar no procedimento que está realizando (uma cirurgia, por exemplo), e todas essas tarefas não podem ser limitadas no relógio - não dá pra estimar que todas as consultas durarão quinze minutos, ou que toda cirurgia durará três horas.
Nesse primeiro grupo era mais comum a presença de veteranos (médicos ou estudantes), que por vezes refutavam os adversários alegando ter mais conhecimento de causa.
No outro grupo, as opiniões eram baseadas em ética, profissionalismo, e respeito aos pacientes, que não precisam receber de brinde um "chá de cadeira" toda vez que vão a uma consulta médica.

De fato, há consultas que demandam mais do que quinze minutos, mas então, por que não reservar vinte ou trinta minutos para uma consulta?
Já me adianto com duas respostas. A primeira, politicamente incorreta, é porque os médicos precisam ganhar mais dinheiro e, portanto, pode-se devolver a pergunta: por que agendar dois pacientes por hora, se é possível agendar quatro e receber o dobro de dinheiro?
A outra, politicamente correta, é para otimizar a abrangência do atendimento médico. Há consultas que duram menos de quinze minutos, então, por que agendar dois pacientes por hora, se é possível agendar quatro?
Analogamente, se um procedimento cirúrgico pode levar de duas até seis horas, por que um médico agendaria um outro compromisso para três horas após o horário de início da cirurgia?
Ahmmm, eu já falei sobre otimização do tempo? Ah...

E aí, se a cirurgia ou a consulta duram mais que o previsto, quem paga o pato? Essa eu nem preciso responder, né?

Uma manicure faz exatamente a mesma coisa - agenda mais clientes do que é capaz de atender.
Dependendo do ponto de vista, a profissão do médico é mais nobre do que a da manicure, mas e os conceitos de ética e respeito, variam conforme a profissão?

É claro que há imprevistos, que causam atrasos. E isso não é exclusividade dos médicos.
O problema surge quando os imprevistos são constantes. Aí, a própria definição de imprevisto é perdida.
Talvez a profissão do médico conte, estatisticamente, com um número maior de situações inesperadas. Talvez.
De qualquer forma, eu prefiro não relacionar e não justificar atrasos à profissão médica.

Como uma participante bastante coerente comentou, penso que o atraso está muito mais conectado à cultura brasileira do que a uma ou a outra profissão.
Isso explica porque, mesmo quando agendamos um horário, esperamos tanto nas consultas médicas, odontológicas, na manicure e no cabelereiro, e eventualmente na fila dos bancos e dos parques de diversão, nos órgãos públicos, e até num encontro com amigos...!

Qualquer pessoa razoável é capaz de concluir junto comigo, então, que pontualidade não tem absolutamente nada a ver com profissão.
Assim, a pergunta pode ser direcionada a qualquer um: Você é uma pessoa pontual? (leia-se: Você respeita o próximo?)

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