sábado, 17 de dezembro de 2011

Nowhere


Logo depois de descobrir que o mundo era o seu lugar, percebeu que não tinha mais um lugar no mundo.
O medo que sentira há alguns dias se concretiza.
Porque abraçar o mundo talvez tenha sido um passo grande demais para pernas que estavam acostumadas com a pequenez do cotidiano vicioso.
Porque a sensação é de que não pertence mais a este lugar. E a lugar nenhum.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Criança

Achava que tornara-se maduro.
De uma maneira positiva, via-se insensível à quase todas as dores e capaz de enfrentá-las.
Que a solidão não era necessariamente ruim e que era forte o suficiente para enfrentar o mundo sozinho.
Ser distante era estar seguro.
Fazer o bem sem olhar a quem garantiria felicidade plena.

Até que em lágrimas, redescobriu-se criança.
Percebeu-se carente da companhia de pessoas que se importavam. Da companhia física.
Sentiu falta daquele abraço que nunca foi dado, e daquelas palavras que permaneceriam silenciosas.
Frágil e assustado. Despreparado. Com medo do que viria.
E com mais medo ainda do que poderia não vir.

domingo, 17 de julho de 2011

Hoje, até logo














Falta pouco, bem pouco.
Na verdade, a hora chegou. Ouvi incontáveis vezes, nos últimos meses, quão corajoso eu estou sendo. Se eles soubessem...
Mas eu sabia que seria assim desde o instante em que tomei minha decisão. Claro, saber e sentir são coisas bem diferentes, mas eu também decidi que o medo não seria uma barreira a ser considerada.
Hoje, depois de ter arrumado as malas, descobri que elas comportam até que facilmente minhas roupas e bugigangas, mas meu coração é grande demais pra caber dentro delas.
Hoje, a menos de dois dias de partir, além de saber, eu consigo sentir que muitas coisas, e coisas valiosas, ficarão para trás. Como eu mesmo disse, em outra ocasião, dar um passo a frente significa deixar algo para trás. Mas não foi só isso. Disse também que minhas escolhas me permitiram aprender mais. E talvez por uma dádiva, nós não somos como as máquinas, que carecem de deletar velhas informações para absorver novas. Nós agregamos.
Hoje, assim como durante todo este ano, eu tento me convencer de que são apenas quatro meses e depois estarei de volta. Isso é verdade, ou meia verdade. No final do ano pretendo sim estar aqui, entretanto, no fundo, eu sei que serão longos anos, que talvez passem rapidamente, mas haverá sempre a sensação de que uma parte de mim está longe e inalcançável.
Hoje, como em tantos outros dias, eu lembro do sentimento de tranquilidade que por vezes toma conta de mim, e que me traz a certeza do sucesso mesmo diante do desconhecido. Lembro também do sentimento de gratidão, por ter chegado até aqui.
E finalmente, hoje, eu me sinto preparado para dizer "até logo, estou indo encontrar mais um de meus caminhos".

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Resposta ao blog Medicina na Federal!: Sistema de Cotas na UFRGS

Este post é o comentário que escrevi em resposta a esse post aqui, da blogueira Lari - meu comentário ficou meio grandinho, e não coube lá, então estou postando aqui.

Ela usou o exemplo da UFRGS para expor como funciona o sistema de cotas para acesso às universidades, e finalizou com uma pergunta: "Gostaria de saber a opinião de vocês. Vocês são a favor ou contra o sistema de cotas? Por quê?"
Parcialmente contra. Parcialmente a favor.
Contra porque o vestibular é, antes de mais nada, um exame classificatório (e eliminatório). Assim, tem como principal objetivo CLASSIFICAR os candidatos em ordem decrescente de desempenho e, como sabemos, os melhores colocados garantem uma vaga no curso pretendido. Dessa forma, parece-me incoerente e injusto reservar uma determinada quantidade de vagas para um grupo especial de alunos, sejam eles egressos de escolas públicas, negros, deficientes ou etc, uma vez que esses alunos garantirão suas vagas mesmo não estando entre os melhores classificados, além de, é claro, ocupar as vagas que pertenceriam a alunos com melhores pontuações mas que não são cotistas.
Na verdade, acho que todo mundo pensa dessa forma. Ocorre que a quase totalidade dos vestibulares não seleciona os melhores futuros graduandos, e sim os alunos mais bem preparados para um exame específico. E é fato, comprovado através de inúmeras estatísticas, que os alunos mais bem preparados para enfrentar o exame vestibular estão nas escolas particulares.
Diante dessa situação, e das sabidas deficiências no ensino público, descobriu-se um remédio para garantir a universalidade ao ensino superior, e eu diria até que com o intuito de dar um cala-a-boca em quem reclamava que só alunos das particulares obtinham êxito no vestibular: o sistema de cotas.
Ao meu ver, foi uma 'descoberta' providencial. Quiçá conveniente. Para governo, que não dá conta de aumentar a qualidade do ensino, e para os alunos das escolas públicas, que passaram a ver alguns colegas a mais sendo aprovados. O problema é que o sistema de cotas, como todos somos capazes de reconhecer, é paliativo.

Eu, particularmente, considerando a atual situação da educação pública no país, sou, por ora, a favor do sistema de cotas. E não é um absurdo pensar assim. O mesmo acontece na economia, quando pequenos empresários recebem, por exemplo, incentivos fiscais, para poderem concorrer com os grandes. Pode não parecer tão adequado comparar educação com mercado, mas é só uma forma de ilustrar que condições sociais podem sim justificar medidas corretivas para um sistema.
Para finalizar, e propondo sugestões para que o sistema de cotas passe a ser desnecessário, são necessárias duas ações: primeira, óbvia e quase utópica, que a educação pública atinja patamares de excelência - o que demanda muito mais investimento em educação; depois, não tão óbvia mas também quase uma utopia, que os exames vestibulares sejam totalmente repensados e reformulados. Um excelente aluno na graduação não precisa ter decorado fórmulas, conteúdos, enunciados, leis, dados, não precisa ter acumulado informações, precisa ter uma única habilidade, rara de se ver hoje em dia: saber pensar.
(Sugiro a leitura complementar dos textos de um colunista do iG, Mateus Prado, aqui).

Não podia deixar de comentar também o comentário que o colega Arthur fez ao post da Lari (consultem no blog dela).
- O comentário "quem é bom vai na raça" não cabe muito bem aqui, já que estamos discutindo, entre outras coisas, a reserva de vagas para candidatos da RAÇA negra, rs.
- O primeiro a entrar por cotas, geralmente, atinge sim a média do último candidato universal, o que indica que a injustiça não é tão grande assim.
- Também não é apropriado o uso do termo "discriminação", afinal, o exame vestibular é, em sua essência, um processo discriminativo - que separa os "melhores" alunos, dos "piores".
- Sobre os gêmeos, lamentável se usaram de má fé. Mas não existe uma escala padrão de cores do Inmetro, ou da OMS, para classificação de cor de pele. Tanto que a maioia dos questionários perguntam como o candidato se declara, ou seja, é uma autodeclaração - subjetiva. Tenho uma prima que é tão branca como a branca de neve, mas a mãe dela e todos os ascendentes são negros. Sim, ela pode se declarar como parda, por exemplo. Mas assim, no geral, eu não vejo justificativa nenhuma para haver cotas para negros. Pq uma coisa é dizer que alunos das escolas públicas aprenderam menos por conta de um sistema educaiconal carente. Outra coisa é dizer que alunos negros são menos inteligentes que os brancos. Em suma, sou absolutamente contra cotas para negros.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Porque eu também tenho o direito a autoajuda














Yesterday, morning:

I fell: anger.
I will use it with one single purpose: go ahead.
I was given a gift.
I was given all the tools I need.
That means I do not depend on anyone to succeed.
I may shame some people, but I'm not gonna shame myself anymore.
I know the way.
I just need to do it.
The time to change potential into power has come.
All is on my hands.
I will be brave. I will be good.
I will be kind - to who deserves it. And I will try hard to be kind to who doesn't.
My role here is to help people. I can't do this by pushing them away.
Although what I've been told, I am ready.
Ready to become better.

Yesterday, afternoon:

I feel: confidence.
I will use it with one single purpose: fly off.
I was given a sign.
I was given all the signs I wanted.
Tha means that the future will be successful.
I won't shame anyone. I'll be proud of myself.
I feel the way.
I just need to be it.
The time to change experiences into wisdom has come.
All is on my head.
I will be soft. I will be strong.
I will be better - better than myself.
My role here is to learn. I can't do this by standing still.
Although what I could have thought, I am able.
Able to start right now.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O exame da Ordem: remédio amargo

A discussão sobre a necessidade e a validade da aplicação de um exame após o curso de graduação para avaliar a qualidade individual do formado é bastante polêmica e suscita as mais divergentes e calorosas opiniões.

Ouve-se falar, principalmente com a recente onda de publicidade dos erros médicos, que um exame deveria(?) ser aplicado também aos formados em Medicina. Pela lógica, logo se concluiria que todos os graduados, bem como os formados nas carreiras técnicase etc, deveriam passar por um exame similar antes de ingressar na vida profissional.
Atualmente, apenas os graduados em Direito precisam se submeter a um exame para serem promovidos de bacharéis a advogados, aptos assim a excercerem plenamente a profissão. Como é a única carreira que exige tal avaliação, será tomada como base, o que não significa que as colocações não possam ser transportadas para outras áreas do conhecimento.

Fazendo uma analogia a uma brincadeira infanto-juvenil, trata-se de um cabo de guerra (para os leigos, é aquele jogo em que duas pessoas ou equipes, cada qual segurando em uma extremidade de uma corda, puxa, tentando 'arrastar', a outra equipe até determinado ponto).

Em uma das extremidades estão, entre outros, alguns representantes estudantis e alguns parlamentares, propondo a extinção do exame da OAB, alegando, dentre outras coisas, que não caberia à Ordem definir quem está, ou não, apto a exercer a profissão de advogado(1), que os estudantes deveriam ser avaliados no decorrer do curso(2) e ainda que não parece sensato e justo que o aluno passe por uma seleção inicial (vestibular), estude por pelo menos cinco anos e, ao final do processo, não se transforme automaticamente em advogado(3).

Do outro lado, integrantes do MEC e da própria OAB, defendendo a manutenção do exame como forma de garantir a qualidade dos profissionais que entram no mercado, uma vez que o MEC avalia apenas a qualidade da aprendizagem (e não a capacitação do profissional)(4). Além disso, com a extinção do exame, os cursos de má qualidade seriam beneficiados(5), argumento confirmado pelo dado de que 70% dos alunos de instituições públicas e particulares de boa qualidade são aprovados no exame(6).

O interessante, neste ponto, não é escolher uma das equipes e ajudá-la a puxar a corda, mas sim notar que o exame existe apenas para remediar uma série problemas maiores: 

Seria o MEC incapaz de avaliar, além da qualidade da aprendizagem, a qualidade do curso como um todo (programa pedagógico, corpo docente, infraestrutura)? E se a OAB avalia a qualificação individual dos graduados em Direito, uma vez que o MEC não é capaz de desempenhar tal tarefa, quem é que avalia os formados nos outros tantos cursos? (então precisamos garantir que temos os melhores advogados, mas não tem problema se tivermos médicos, professores e engenheiros mais ou menos? É essa a melhor explicação do MEC?)

Se a OAB participa do processo de criação dos cursos jurídicos no país e apresentou parecer contrário a quase 92% desses cursos(5), quem é que bateu o martelo para que tantos cursos sem qualidade fossem abertos? Teria sido o MEC?

Questionamentos expostos, não agrada a mim, particularmente, criticar o MEC. De alguns anos pra cá, uma série de ações e acontecimentos têm me levado a simpatizar com o ministério e com o ministro.

Imagino que o MEC tenha sim a responsabilidade de fiscalizar e, ainda, impedir a abertura de muitos cursos. Por outro lado, não podemos ignorar o fato de estarmos inseridos numa sociedade coordenada pela lei da oferta e da demanda. O que quero dizer é que dezenas ou centenas de cursos sem qualidade são (e continuarão sendo) abertos porque existem (e continuarão existindo) pessoas interessadas em cursá-los - quem é que não prefere fazer um curso superior na Uniesquina a permanecer apenas com o diploma do ensino médio, diante de um mercado de trabalho cada vez mais exigente?

Então, enquanto os métodos profiláticos não forem implementados e não começarem a surtir efeito, evitando a proliferação da doença-dos-profissionais-formados-sem-qualificação, eu me sinto na obrigação de ser favorável à terapia medicamentosa, que faz uso do exame para se curar dos agentes patológicos e mal-formados que contaminam o organismo da sociedade.

(1)Tiago Ventura, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes;
(2) deputado Vicentinho (PT-SP), formado em Direito, mas não fez exame da OAB;
(3)deputado Domingos Dutra (PT-MA);
(4)Paulo Roberto Wollinger, diretor de regulação e supervisão da educação do MEC;
(5)Marcus Vinícius Furtado Coelho, secretário-geral do Conselho Nacional da OAB;
(6)Ophir Cavalcante, presidente da OAB.




texto motivador: matéria publicada hoje no G1 (veja aqui)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Resposta para Lari (ProUni)

Lari, concordo em partes com vc. Concordo que é possível viver bem com uma renda mais baixa, como a que vc alegou que sua família tem. Concordo que a proposta do ProUni é auxiliar, justamente, essas famílias, com baixa renda. Concordo também que há espertinhos que fraudam o sistema, e não são poucos.
Sobre não precisar ser miserável para receber o benefício, bem, aqui não sei se concordo, acho que seria preciso definir algumas outras coisas mais complexas (mas é claro que usei miserável como uma hipérbole).
E vou usar mais um de seus exemplos. Pelo que entendi, vc quase conseguiu uma bolsa para cursar Medicina. Mesmo que vc usufrua ao máximo dos recursos da universidade, como biblioteca, por exemplo, em alguns momentos do curso vc precisaria (ou precisará) dispor de mais dinheiro para comprar um jaleco e um bom estetoscópio, só para citar alguns exemplos. Existem também alguns livros que é bem interessante que vc tenha. Esses materiais todos, principalmente esteto e livros, são bem caros. Fico imaginando como vc e sua família, cuja renda per capita é de aproximadamente R$ 333,00, vão ter que se desdobrar para arcar esses gastos que mencionei.
Fora que a bolsa do ProUni não paga moradia (caso vc precise morar fora de casa), não paga transporte (caso vc precise pegar ônibus até a faculdade), não paga seu almoço, caso vc precise passar o dia inteiro na faculdade... Pq convenhamos, mesmo que vc ainda consiga a bolsa permanência do MEC, de R$ 300/mês, não vejo como uma pessoa/família poderia se manter.

Meu irmão recebe bolsa integral de uma universidade aqui na minha cidade - não é uma bolsa do ProUni. Eu fui pré-selecionado para uma bolsa do ProUni na mesma universidade, e nem cheguei a ir apresentar os documentos, pois no meio do período meu irmão arrumou um estágio remunerado, e aí a renda da minha família já superaria o limite para concessão da bolsa.
O estágio pagava ao meu irmão, se não me engano, R$ 600,00, que divididos entre os membros da minha família, representariam um acréscimo de R$ 200 na renda per capita - o que me excluiu da elegibilidade do benefício.
E eu tenho que perguntar: de acordo com as regras do ProUni, antes do estágio do meu irmão, eu conseguiria a bolsa, o que significa que o programa entendia que minha família era carente. Depois do estágio, com mais R$ 600, minha família deixou de ser carente, mas como é que pagaríamos uma mensalidade de 4 mil reais, se nossa renda subiu só em 600?

Quero ratificar que não sou a favor dos fraudadores do sistema. Mas como disse, acredito que os critérios deveriam ser revistos e, talvez, se fossem variáveis de acordo com a mensalidade do curso, atingiriam um número maior de alunos interessados.
O que também preciso deixar claro é que não podemos misturar as bolas: uma coisa é a crítica que estou fazendo às regras do programa, da qual vc parece discordar. Até ai, sem problemas. Outra coisa, bem diferente, e que tenho certeza que concordamos, é com a (falta de) fiscalização do processo, que deveria ser efetiva, tendo em vista as vantagens que as instituições recebem para conceder as bolas e quantidade de alunos realmente carentes que perdem a oportunidade de serem beneficiados.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Debate: Universidade para todos?

Foi bastante providencial a reportagem do Fantástico anteontem, 01/05/11, sobre as irregularidades na concessão de bolsas do ProUni - Programa Universidade para todos do governo federal.

Mas vou tomar como exemplo uma reportagem do ano passado, também do Fantástico, que contém mais dados: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1585378-15605,00.html, de 02/05/2010.

A mãe de uma das alunas recebia, na época, salário de R$ 2.900,00. Considerando que constituíam o núcleo familiar apenas a mãe e filha estudante de Medicina, a renda per capita era de R$ 1.450,00, bastante acima dos 765,00 exigidos até 2010 como requisito para conseguir o benefício.


Pergunto: é errado adulterar documentos para comprovar rendimentos menores que os reais? É ilegal adulterar informações para obter o benefício da bolsa integral do ProUni? Existe gente safada?
Claramente, a resposta para todas perguntas é 'sim'.

E meu objetivo não é justificar tais ações ilícitas, mas uma outra pergunta não sai da minha cabeça:

Como é que uma família, como a supracitada, com renda mensal de R$ 2.900,00 vai pagar a mensalidade de R$ 3.200,00 do curso de Medicina?
Além da mensalidade, será que mãe e filha conseguem passar seis anos sem comer, sem energia elétrica e sem água?

Mas a solução para o problema das duas era bem simples, só elas não perceberam: a mãe da aluna deveria pedir demissão e se mudar com a filha para um barraco em alguma favela. Assim, não teriam gastos com moradia. Energia elétrica e água seriam gratuitas graças a algumas gambiarras típicas desse formato de habitação. E as duas poderiam passar o mês comendo arroz ou feijão, e farinha, comprados com a bolsa permanência de R$ 300,00 concedida pelo MEC.
Jaleco, livros caros e outros materiais de estudo? Bobagem, a faculdade deve ter uma biblioteca, e que estudante de medicina precisa de um estetoscópio?

Uma outra aluna que perdeu o direito a bolsa na PUC-SP resume bem o que eu quero dizer:

"Eles não querem simplesmente que o aluno bata a renda, eles querem que o aluno seja miserável", diz.


E finalizo com mais um questionamento: não seria mais adequado (e mais justo) que o requisito da renda per capita fosse variável, de acordo com a mensalidade do curso pretendido?

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Bom dia, sorriso e mão gelada

- Oi, bom dia! - falou, sorrindo e estendendo-me a mão direita gelada.

Retribuí o cumprimento com um sorriso um tanto menor que o dele, que pareceu menos sincero do que realmente era. Sempre ouvi que era um cara bacana, e mais tarde descobriria que estavam certos.

Foi a primeira vez, em seis meses, que ele me estendeu a mão. Já havíamos trocado alguns poucos olhares e 'bons dias', mas sempre à uma certa distância, imposta pela barreira de quem não tem intimidade nenhuma.

Hoje foi diferente. A barreira não existe mais. É o último dia dele. Neste momento, tanto fazem as aparências, as convenções, as regras, o politicamente correto. Trouxe até pães de queijo para todos!

Sei exatamente como ele se sente.
Hoje, ele só queria se despedir. E muito mais que isso, queria que se despedissem dele.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Debate: Em busca de qual verdade?











Tenho acompanhado alguns blogs no G1. Dentre eles, o do Paulo Coelho. Independentemente da misticidade e possíveis metáforas excessivas de seus escritos, considero bastante pertinente e sensata a maioria de suas colocações. Resolvi transcrever aqui o texto que ele publicou hoje.

O sentido da verdade

Em nome da “verdade”, a raça humana cometeu seus piores crimes. Homens e mulheres foram queimados, a cultura de civilizações inteiras foi destruída, os que cometiam os pecados da carne eram mantidos a distância, os que procuravam um caminho diferente eram marginalizados.

Um deles, em nome da “verdade”, terminou crucificado. Mas – antes de morrer – deixou a grande definição da “verdade”.

Não é o que nos dá certezas. Não é o que nos dá profundidade. Não é o que nos faz melhor que os outros. Não é o que nos mantém na prisão dos preconceitos. A verdade é o que nos faz livres.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, disse Ele.


(http://g1.globo.com/platb/paulocoelho/)

A escolha desse texto não se deu ao acaso. Ela vem de encontro aos meus pensamentos e sentimentos em relação a um conjunto de acontecimentos polêmicos que têm recheado a mídia, todos relacionados a um deputado federal do PP-RJ, e cujo estopim foi uma entrevista num programa de TV, exibido nas noites de segunda-feira.

Pretende-se, aqui, em vez de defender este ou aquele grupo, analisar o discurso dos envolvidos direta e indiretamente.

O deputado e a horda que o segue posicionam-se, com soberba, de maneira agressiva, ignorante, ilógica e discriminatória. A única diferença entre o "rei" e seu "súditos", é que o primeiro tenta se fazer eloquente, enquanto os demais apenas disparam preconceito (e não é a ignorância a mãe do preconceito?).
Não suficiente, argumentam de forma recriminatória.
E é exatamente neste ponto que eu queria chegar.
Pertinente explicitar, aqui, uma das definições de do verbo "recriminar": responder a uma acusação acusando também (Dicionário Michaelis, online).

Termo definido, qualquer espectador, ouvinte ou leitor mais atento é capaz, então, de captar, na maioria das declarações do deputado e de seus fãs, recriminação. Na minha modesta opinião, é assim que se perde uma discussão.

Lembro-me sempre de uma orientação que recebi de uma professora, ainda durante o ensino fundamental, sobre a construção de um texto dissertativo. A dica dela era bem simples: Nunca, jamais, sob nenhuma circunstância e em nenhuma hipótese, faça uso de argumentos religiosos para defender seu ponto de vista.

É claro que falando de seres humanos, não se pode ignorar completamente as crenças de cada um.
Todavia, é necessário ter cautela ao se posicionar numa discussão. E quando o objeto discutido são grupos de seres humanos, a cautela precisa ser, no mínimo, redobrada.
Qualquer argumentação que, no lugar de exclusivamente defender seus pontos de vista e as qualidades de seus defendidos, critica e acusa a(s) outra(s) parte(s), apontando suas "falhas", sobretudo de cunho religioso, presenteia-se com a autoderrota.

Termino reiterando o texto transcrito no início deste post. Em nome da "verdade" muitas atrocidades já foram cometidas.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)

Tua verdade te aprisiona, ou te liberta?